A Importância dos Monges Católicos Para a Humanidade

Diego Costa
12 min readNov 6, 2020

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Além de ajudarem na salvação de almas, os monges católicos também contribuíram diversas vezes para a humanidade, sendo na área científica, tecnológica ou cultural, os monges foram importantíssimos em diversos fatores para a formação do bem e do bom que podemos encontrar hoje no mundo.

Os monges católicos vivem uma vida cristã totalmente consagrada à Deus no retiro, no silêncio, na oração, na penitência e no trabalho. Até hoje esses homens e mulheres consagram-se como virgens, afim de se dedicarem por inteiro à Deus, Sua Igreja e ao próximo na caridade e na simplicidade.

Esses monges foram extremamente importantes para a construção e sobrevivência da civilização ocidental ao manter juntamente com a Igreja, a civilização européia em pé depois da queda do Império Romano. Não é atoa que São Bento, fundador da Ordem dos Beneditinos, é o padroeiro da Europa.

Sem os esforços dos monges copistas, por exemplo, não existiriam hoje os textos de Platão, Aristóteles, Pitágoras e outras grandes personagens da Grécia Antiga. Além disso, diversas inovações e invenções tecnológicas também surgiram com os monges, na qual falarei mais adiante. Sem citar também os monges que ficaram responsáveis por educar crianças ao redor dos mosteiros, que se tornaram verdadeiros “jardins de infância”.

Comecemos esse texto falando um pouco da grande importância dos monges copistas, responsáveis por preservar e ensinar muitos dos textos que conhecemos ainda hoje e que seriam perdidos se não fossem por eles.

Os Monges Copistas

Nossos livros são nossos deleites e nossa riqueza em tempo de paz, nossas armas ofensivas e defensivas em tempos de guerra, nosso alimento quando estamos famintos, e nossa medicina quando estamos doentes.

São Hugh de Lincoln

Em sua importante obra “Uma História que não é Contada”, o professor Felipe Aquino nos explica perfeitamente sobre os monges copistas:

Uma das atividades principais dos monges foi a de serem copistas de manuscritos sagrados e profanos, o que na maior parte do tempo foi uma tarefa difícil, pois faziam sob o frio rigoroso e também faziam à noite o que não podiam fazer de dia, quando os manuscritos raros e originais eram usados nas igrejas.

No século VI o senador romano Cassiodoro, entendeu a importância do papel cultural dos mosteiros e também estabeleceu um, chamado “Vivarium”, no sul da Itália, sendo o único com biblioteca disponível à estudantes no século VI. Alguns manuscritos cristãos deste mosteiro foram depois enviados para a biblioteca Lateranense de posse dos Papas.

Na biblioteca do teólogo Alcuin, que trabalhou com Carlos Magno, foi encontrado obras de Aristóteles, Cícero, Plínio, Statius, Pompeu e Virgílio. Em suas correspondências ele citava Ovídio, Horácio e Terence. Lupus (805–862), que foi Prior de Ferrieres citava Cícero, Horácio, Marcial, Suetônio e Virgílio. Abbo (950–1004), Prior de Fleury, se mostrava familiarizado com Horácio, Saluste, Terence e Virgílio. Desiderius, futuro Papa Vítor III e o maior Prior de Monte Cassino depois de São Bento, supervisionou a transcrição de Horácio e Sêneca, bem como “De Natura Deorum”, de Cícero, e “Fasti”, de Ovídio.

O arcebispo Alfonso, que foi monge em Monte Cassino, citava com familiaridade Apoleius, Aristóteles, Cícero, Platão, Varro, Vírgilio, Ovídio e Horácio. Santo Anselmo enquanto abade de Bec, recomendava Virgílio e outros clássicos à seus alunos, embora recomendasse pôr de lado algumas passagens por razões morais. Gerbert de Aurillac, futuro Papa Silvestre II (999–1003), mostrava à seus alunos, Horácio, Juvenal, Lucan, Persius, Terence, Statius e Virgílio. John Henry Newman, Cardeal do século XIX, dizia que Santo Hildebert sabia Horácio praticamente de memória.

O fato é que a Igreja Católica, por meio também dos monges, valorizou, preservou, estudou e ensinou os trabalhos dos antigos que poderiam ter sido facilmente destruídos pelos bárbaros. Muitos textos seriam perdidos para sempre se os monges não os guardassem nos “Anais e Histórias de Tácito”; a “Golden Ass of Apuleius”, “Os Diálogos”, de Sêneca e muitos outros. Todos os textos foram transcritos pelos monges com o objetivo de preservá-los.

Lupus havia pedido a um abade amigo para copiar “A Vida de César”, de Suetônio,“Verrines”, de Cícero e “De Retórica”, de Cícero. Além disso, apelou ao Papa por uma cópia de “De Oratore”, de Cícero; “Instituições”, de Quintiliano e outros textos. São Maieul de Cluny tinha sempre um livro em mãos quando viajava. Halinard, abade de São Begnigno em Djon, depois Arcebispo de Lyon, era conhecedor profundo dos filósofos antigos.

Além de fazer cópias dos trabalhos dos Padres da Igreja e dos Clássicos gregos e latino, os monges tiveram outro trabalho importante: a preservação da Bíblia. Sem os monges a Sagrada Escritura não teria sobrevivida aos bárbaros.

Antes da invenção da prensa móvel por Gutenberg, os monges eram responsáveis por criar cópias da Bíblia a mão, o que custava caro e levava cerca de um ano para ficar pronto. As vezes demorava mais, dependendo da complexidade das iluminuras.

Exemplo de Iluminuras, presentes no “Livro das Horas”.

A produção da Bíblia era muito cara por conta do tempo que se levava para fazer uma cópia Dela, dois casos nos exemplificam isso:

  • Em bibliotecas, mosteiros ou igrejas que continham um exemplar da Sagrada Escritura disponível para leitura da população, Ela era acorrentada para evitar furtos;
  • Certa vez, São Francisco de Assis não tendo outros bens com os quais ajudar uma pobre mãe de um dos seus irmãos franciscanos, deu a ela o único exemplar do Novo Testamento que eles tinham. Não era a Bíblia inteira, e mesmo assim quando a mãe o vendeu, ela conseguiu se sustentar por dois anos com o dinheiro arrecadado com a venda.

Os monges também foram além de preservar a literatura, eles estudaram as músicas de poetas e escritos de historiadores e filósofos, ensinaram a metalurgia, introduziram novas culturas, foram pioneiros na tecnologia, melhoraram a paisagem europeia, socorreram andarilhos e náufragos e muito mais que citarei em seguida.

Os mosteiros, como espécies de fortalezas em que a civilização se abrigou sob a insígnia de algum santo… A cultura da alta inteligência conservou-se ali com a verdade filosófica que renasceu da verdade religiosa. Sem a inviolabilidade e o tempo disponível do claustro, os livros e as línguas da Antiguidade não nos teriam sido transmitidos e o elo que ligava o passado ao presente ter-se-ia rompido.

Chateaubriand

O Desenvolvimento Tecnológico pelos Monges

[…] é difícil encontrar algum grupo em algum lugar do mundo cuja contribuição foi tão variada, tão significativa, e tão indispensável como aquelas dos monges da Igreja Católica no Ocidente durante um tempo de perturbações e desespero generalizado.

Dr. Thomas Woods

Além das contribuições já citadas, os monges também ajudaram no desenvolvimento tecnológico do Ocidente. Eles deixaram uma incrível contribuição em várias áreas, uma delas foi a agricultura.

Começo citando a frase de Henry Goodell (1901), presidente da Faculdade de Agricultura de Massachusetts no começo do século XX, cuja frase também está presente no livro do professor Felipe Aquino:

O trabalho desses grandes monges durante um período de 1500 anos, salvaram a agricultura quando ninguém mais poderia fazê-lo. Eles praticavam-na sob uma vida nova e novas condições quando ninguém mais podia cuidar […]. Nós devemos a restauração da agricultura de uma grande parte da Europa aos monges.

Sempre que eles chegavam, convertiam o deserto em um campo cultivado, eles desenvolviam a pecuária e a agricultura, trabalhando com as próprias mãos drenando pântanos […] Por eles a Alemanha se transformou em um frutuoso país.

Cada mosteiro beneditino tinha um centro de ensino de agricultura para toda a região que estava localizado. Para os monges, o trabalho pesado era uma maneira de santificação e penitência. Eles drenavam pântanos sem valor e os transformavam em terras ricas, cultiváveis e habitáveis, como cita Montalembert (1896):

Os monges beneditinos foram os agriculturistas da Europa; eles desenvolveram-na em larga escala, associando a agricultura com a oração.

Newman (1948)

É impossível esquecer o uso que eles fizeram de tantos distritos incultivados e inabitados, cobertos de florestas ou cercados de pântanos […] Embora eles abrissem clareiras nas florestas para habitação humana e uso, eles tinham o cuidado de plantar árvores e cultivar florestas quando possível.

Montalembert (1896)

De acordo com o professor Aquino, onde os monges chegavam introduziam as plantações, indústrias, e métodos novos de produção não familiares; criação de gado e cavalos, produção de cerveja e cultivo de abelhas e frutas. Os camponeses aprenderam com os monges a irrigação do solo. A Idade Média cristã produziu também a máquina na Europa em larga escala. Os monges trabalhavam na mineração do sal, chumbo, ferro, alumínio, uso do mármore, vidro, fizeram pratos de metal e não havia atividades que eles não tivessem criatividade e espírito de pesquisa, e o seu “know-how” se espalhou por toda a Europa. Eles trabalhavam o minério de ferro e usavam as cinzas dos fornos como fertilizantes por causa de sua concentração de potássio. Na Suécia introduziram a cultura do milho; em Parma, a fabricação de queijo; na Irlanda, criação de salmon, e, em muitos lugares, cultivo de uvas; coletavam a água das fontes para distribuí-las no tempo de seca.

Os monges também foram pioneiros na produção de vinho, que utilizavam tanto na celebração da Santa Missa, quando para consumo próprio. A descoberta do champanhe, foi feita por Dom Perignon, da Abadia de São Pedro, em 1688.

Os monges também foram importantes arquitetos da tecnologia medieval. Os de Cister (cistercienses), uma ordem de São Bento, eram conhecidos por suas tecnologias sofisticadas. Graças a grande rede de comunicação que existia entre os mosteiros, as informações tecnológicas se espalhavam rapidamente. Foi encontrado, por exemplo, sistemas de propulsão de água semelhantes em mosteiros que estavam a milhares de quilômetros de distância um do outro.

O mosteiro cisterciense de Claraval na França, já usava no século XII a energia da água. Os mosteiros dessa Ordem geralmente tinham as suas próprias fábricas; usavam a força da água para moer o trigo, peneirar farinha, tecer roupas e fazer cozimento. Nesse século, existiam na Europa 742 mosteiros cistercienses, e o mesmo nível de tecnologia podia ser encontrado em todos os mosteiros. Os cistercienses eram conhecidos por suas habilidades em metalurgia, assim cita Jean Gimpel:

[…] em sua rápida expansão pela Europa foram importantes na difusão de novas técnicas por causa do alto nível de sua tecnologia da agricultura, que era combinada com a tecnologia industrial. Cada mosteiro tinha uma fábrica, tão grande como a Igreja e somente a poucos pés de distância e a força da água tocava as máquinas das várias indústrias localizadas neste local.

Além de tudo, os monges também foram especialistas na fabricação de relógios. O primeiro relógio que se tem recordação foi construído por volta de 996 pelo Papa Silvestre II (999–1003), para a cidade alemã de Magdeburg. Peter Lightfoot, monge no século XIV, de Glastonbury construiu um dos mais antigos relógios que ainda existe, e que atualmente está em excelente condição no Museu da Ciência de Londres. A descoberta do relógio também possibilitou o avanço da cinemática e da dinâmica.

Richard de Wallingford, monge Prior do século XIV do mosteiro beneditino de Santo Albano, foi um dos iniciadores da trigonometria na matemática e é bem conhecido pelo grande relógio astronômico que projetou para seu mosteiro. Ele podia prever com precisão eclipses solares, porém acabou sendo confiscado por Henrique VIII no século XVI.

O professor Felipe Aquino cita o estudo do arqueólogo metalúrgico Gerry Mc Donnell, da Universidade de Bradford, que encontrou evidências perto do mosteiro de Rievaulx, em North Yorkshire, Inglaterra, de um grau de sofisticação tecnológica que deu início às grandes máquinas da Revolução Industrial do século XVIII. O rei Henrique VIII acabou mandando fechar esse mosteiro de Rievaulx em 1530 como parte do confisco das propriedades da Igreja e também combateu os mosteiros, com isso, acabou bloqueando e atrasando o desenvolvimento tecnológico da Inglaterra e da Europa por dois séculos e meio.

Ao explorar os escombros de Rievaulx e Laskill, a seis quilômetros do mosteiro, Mc Donnell descobriu que os monges tinham construído um forno para extração de ferro do minério. Eles desenvolveram ainda fornos mais eficientes que atingiram temperaturas mais altas, capazes de tirar mais ferro do minério. Desenvolveram também fornos para grande produção, o que foi importante para a era industrial.

Cita Aquino que o que muito ajudou os monges cistercienses a difundirem o progresso tecnológico, foi que eles tinham uma reunião regular dos Priores a cada ano, e assim compartilhavam os avanços tecnológicos na Europa. Assim como em alguns mosteiros pela Europa eram conhecidos por suas perícias em ramos particulares do conhecimento, por exemplo, conferências de medicina eram dadas pelos monges de São Benigno em Dijon; o mosteiro de São Gall tinha uma escola de pintura e gravuras e, palestras em grego, hebraico e árabes eram dadas em mosteiros alemães.

A Caridade dos Monges

Além de ajudarem na educação, os monges de todos os tempos contribuíram para o combate a fome, a extrema pobreza da população e outros, como fazem ainda hoje, mas neste tema focarei nos períodos já citados no texto.

Quando os mosteiros passaram a seguir a Regra de São Bento (conjunto de preceitos para convivência monástica), ficou de forma obrigatória que os monges deveriam dar hospitalidade no mosteiro aos que necessitavam. A Regra dizia: “Todo hóspede que chega ao mosteiro deve ser recebido como se fosse o próprio Cristo”. Os monges diziam que as portas estavam sempre abertas para todos e que seu pão é gratuito para todo mundo. Em Aubrac, por exemplo, onde um hospital foi criado entre as montanhas, no final do século VI, um sino especial soava toda noite para chamar todos os viajantes ou qualquer outro que precisasse de pousada. O povo o chamava de “o sino dos andarilhos”.

Aquino também cita que em muitos lugares os monges tinham mosteiros próximos do mar, onde colocavam sinalização para os marinheiros evitar perigos ou para auxiliar os barcos que naufragavam e dar provisões para os homens. A cidade de Copenhagen deve sua origem a partir de um mosteiro ali estabelecido por seu fundador, o bispo Alsalon, o qual forneceu comida a um barco naufragado. Na Escócia, em Arboath, os monges colocaram um sino sobre uma plataforma flutuante em uma rocha, que balançava e fazia o sino soar quando havia ondas fortes, para avisar os marinheiros do perigo. Até hoje a rocha é conhecida como a “Rocha do Sino”.

Estas foram apenas algumas das boas ações dos monges que nos beneficiam ainda hoje. O trabalho promovido pelos mosteiros e pela Igreja foram muito importantes, como pudemos ver. Sem ambos o que seria da humanidade?

Conclusão

Este pequeno texto foi publicado com o objetivo de apresentar algumas das ações promovidas pelos monges católicos que trouxeram (como sempre) o bem para a humanidade, e assim valorizá-los ainda mais. Ainda hoje os monges são extremamente importantes, tanto para a salvação de almas quanto pela caridade que promovem a todos os necessitados ao redor de seus mosteiros.

Os monges vivem uma vida totalmente consagrada à Deus e a Sua Igreja, e assim buscam a santidade. Como dito no texto, que outra Instituição fez tantas coisas pelo mundo igual a Santa Igreja fez? O trabalho indispensável dos monges foi capaz de salvar milhares de obras de escritores clássicos, e graças a isso hoje temos contato com Aristóteles, Platão, Cícero e outros. Além das grandes invenções feitas por eles, processos desenvolvidos pelos mosteiros que são utilizados até hoje (o processo de fabricação do Champanhe, por exemplo) e muitas outras coisas como a arte e a cultura que também foram preservadas por estes católicos. Além do material que encontramos no mundo, os monges e a Igreja em si pratica tamanha caridade que seria preciso um livro inteiro para descrevê-las. A Igreja Católica é a maior instituição de caridade do mundo, quantos monges, quantos franciscanos e membros de ordens mendicantes em geral não saem nas ruas para acolher o próximo? É incrível o trabalho destas almas tão queridas. Quantos necessitados não são beneficiados com as ações do Vaticano por exemplo, em alguns países do continente africano? Eu só consigo dizer “Viva a Santa Igreja Católica Apostólica Romana! E meu muito obrigado”.

Espero que tenha gostado deste texto!

Que Deus e a Santíssima Virgem lhe proteja!

Salve Roma, viva o Santo Padre Papa Francisco!

06 de novembro de 2020

Fontes:

AQUINO, Felipe. Uma História que não é Contada. 13. ed. Lorena: Cléofas, 2019. 272 p.

AQUINO, Felipe. Por Que Sou Católico?. 36. ed. Lorena: Cléofas, 2019. 192 p.

VARELA, Alexandre; VARELA, Viviane. As Grandes Mentiras Sobre a Igreja Católica: desvende os mitos sobre o catolicismo. 6. ed. São Paulo: Planeta, 2016. 224 p.

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Diego Costa

• Católico Apostólico Romano • Entusiasta da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial e da história da Santa Igreja Católica.